CYSNEIROS, Paulo Gileno. Novas tecnologias na sala de aula: melhoria do ensino ou
inovação conservadora? Revista Informática Educativa, UNIANDES – LIDIE,
vol. 12, n. 1, 1999, p. 11-24.
Resumo:
Esse texto é dividido em quatro
tópicos: História da Tecnologia Educacional; Inovação Conservadora; Internet, Informação
e Educação; Uma Concepção Fenomenológica da Tecnologia Educacional. Em base, o
texto analisa o uso das novas tecnologias da informação, caracterizado como
inovação conservadora em educação, além de aspectos da comunicação na sala de
aula que podem ser modificados, ampliados ou reduzidos com os recursos da
informática.
Tendo como base principal a
realidade cotidiana de grande parte das escolas públicas brasileiras, o autor
procura expor suas ideias resultantes da própria vivência em diversas
instituições educacionais. Com isso, ele levanta questionamentos sobre a
qualidade do ensino, os novos desafios e as novas abordagens da comunicação
mediada pelas tecnologias da informação.
Citações do texto:
“Tudo tem uma história, explícita
ou não, cabendo ao conhecedor crítico tentar desvendá-la, interpretá-la e
usá-la para não repetir erros”. (p. 12)
“Nossa utopia é sempre tentar
mudar a história futura para melhor, e não defendo posições tradicionalistas ou
contrárias à tecnologia na educação. Vejo as novas tecnologias como mais um dos
elementos que podem contribuir para melhoria de algumas atividades nas nossas
salas de aula. Por outro lado, também não adoto o discurso dos defensores da
nova tecnologia educacional, que mostram as mazelas da escolas (algo muito fácil
de se fazer), deixando implícito que nossos professores são dinossauros avessos
a mudanças. É um discurso tentando nos convencer a dar mais importância a
objetos virtuais, apresentados em telinhas bidimensionais, deixando implícito
que a aprendizagem com objetos concretos em tempos e espaços reais está
obsoleta”. (p.14)
“O fato de se treinar professores em cursos
intensivos e de se colocar equipamentos nas escolas não significa que as novas
tecnologias serão usadas para melhoria da qualidade do ensino”. (p.15)
“A história da tecnologia
educacional contém muitos exemplos de inovação conservadora, de ênfase no meio
e não no conteúdo. Devido ao efeito dramático, sedutor, da mídia, em certos
casos a atenção era concentrada na aparência da aula, tomando-se como algo
“dado” o conteúdo veiculado, seja na sala de aula por transparências ou filmes,
ou pela difusão ampla de conteúdos, através da TV, do rádio ou mesmo de livros
textos cheios de figuras, cores, desenhos, fotos”. (p.16)
“A presença da tecnologia na
escola, mesmo com bons software, não estimula os professores a repensarem seus
modos de ensinar nem os alunos a adotarem novos modos de aprender. Como ocorre
em outras áreas da atividade humana, professores e alunos precisam aprender a
tirar vantagens de tais artefatos”. (p.18)
“Outro aspecto que pode confundir
o educador é o discurso da necessidade da informação (colocado por Seymour
Papert, e por alguns conferencistas de congressos de informática), que nos
causa de inicio certa angústia ao concluirmos que a escola não tem acesso
imediato à enorme quantidade de informação que é produzida diariamente no
mundo”. (p.18)
“Para a formação básica de uma criança
e para resolução dos problemas que alguém encontra no dia a dia, as informações
mais relevantes são aquelas amadurecidas pelas gerações passadas, pelo tempo,
ou aquelas encontradas na própria comunidade, acessíveis através de meios mais
simples como jornais e pelo contato humano no próprio grupo social, não aquilo
que está ocorrendo em Nova Iorque ou em Tóquio e colocado na Internet”. (p.19)
“Embora a Internet seja um
recurso com muito potencial para determinadas atividades educativas, ela também
pode ser mais um fator de colonialismo cultural, pois estamos recebendo a
informação daqueles que tem condições de colocá-la nos computadores, reduzindo
nossa presença e ampliando o alcance do poder de suas idéias, com todos os
fatores associados do formato hipertexto, da velocidade, de
multi-representações”. (p.20)
“(...) é muito importante que
coloquemos tais máquinas nas mãos de nossas crianças e adolescentes, porém
sempre predominando o ato de educar, de examinar criticamente - numa atitude
freiriana -, aquilo que está lá”. (p.20)
“Nossa experiência da realidade é transformada
quando usamos instrumentos {Ser Humano > (máquina) > Mundo}. Através do
instrumento há uma seleção de determinados aspectos da realidade, com
ampliações e reduções. A amplificação é o aspecto mais saliente e pode nos
deixar impressionados, maravilhados, ao experimentarmos coisas (ou aspectos de
objetos conhecidos) que não conhecíamos antes, com nossos sentidos nus. A
redução, ao contrário, é recessiva e pode passar despercebida, uma vez que não
ocupa necessariamente nossa consciência, impressionada com o novo”. (p.21)
“Uma das conclusões de uma
primeira análise fenomenológica superficial é que a tecnologia não é neutra, no
sentido de que seu uso proporciona novos conhecimentos do objeto,
transformando, pela mediação, a experiência intelectual e afetiva do ser
humano, individualmente ou em coletividade; possibilitando interferir,
manipular, agir mental e ou fisicamente, sob novas formas, pelo acesso a
aspectos até então desconhecidos do objeto”. (p.21)
“Além de ampliar os sentidos, condicionando a
experiência da realidade, as tecnologias da informática, amplificam aspectos da
capacidade de ação intelectual”. (p.22)
Comentários:
De acordo com as ideias expostas
no texto, acho importante ressaltar a necessidade de se atentar às mudanças
decorrentes do uso das tecnologias na educação, com a finalidade de
aproveitá-las para a melhoria da qualidade de ensino e não como mais
instrumentos que qualificam determinada instituição apenas por possuírem, mas
visando uma melhoria na quantidade da educação. Outro fator que se destaca é a
atenção aos pensamentos dos educadores que, muitas vezes, e sentem constrangidos
com o excesso de informações disponibilizadas por meio das novas tecnologias. É
preciso que eles se adaptem às transformações, porém é um desafio fazê-los
modificar toda a metodologia empregada em sua rotina escolar. Contudo, é possível notar que o
processo de atualização dos professores não é suficiente para que a inclusão
das tecnologias na educação seja sinônimo de qualidade no ensino. Muitas vezes,
os equipamentos são utilizados para realizar tarefas que outras ferramentas já
realizavam. A leitura e escrita, por exemplo, estão sendo, cada vez mais,
adaptadas ao mundo eletrônico. No entanto, isso não significa que os livros,
papéis e lápis perderam suas funções. Apenas mudaram as aparências, devido,
dentre outros fatores, à praticidade e rapidez para a execução e o
compartilhamento das atividades. Acredito que para a utilização
das tecnologias na educação seja eficaz, é preciso antes de tudo a consciência dos educadores
quanto à necessidade de se pensar criticamente, sem se deslumbrar com o excesso
de notícias transmitidas. Assim, ao selecionar quais informações são realmente
relevantes para a realidade da comunidade escolar, o uso das tecnologias se
aproxima da meta de melhoria da qualidade de ensino.
Questionamentos:
Com base nos conceitos discutidos
no texto, me pergunto se com os avanços tecnológicos, além da constante
atualização quanto novidade que surgem, cada vez mais, no contexto escolar, o
que os educadores podem fazer para que não se sintam inúteis, desvalorizados no
processo de ensino e aprendizagem e de que forma seria possível afirmar que o
uso das tecnologias é sinônimo de qualidade educacional e não apenas
ferramentas inovadoras que surgem para substituir os tradicionais instrumentos
de ensino?